13.4.13

quando páras o tempo não pára
mas podes sempre parar
pôr-te a escutar o ritmo da casa e o que dança
a minha faz assim:
luz,
quer dizer, isto depende
do dia da semana,
da casa estar ocupada ou desocupada
mas há sempre algo que a ocupa mesmo estando desocupada.
luz; pássaros,
a torneira, pratos e talheres - a minha mãe a lavar a louça-,
estalido do móvel,
ventoinha do computador, relógio; acção.

ontem fui ao relojoeiro, nunca tive o relógio tão certo!
noentanto, o que eu queria mesmo era
era ver o momento exacto do ponteiro das horas mover-se,
o momento exacto da flor a florir,
a primeira gota de chuva a cair na pessoa que passa lá em baixo,
sentir o movimento da terra e o calor do núcleo,
o momento exacto da estação virar,
esta é velha - o momento exacto do bater de asas
e outras coisas que agora me escapam.
os da national geographic conseguem fazer isso
mas têm de estar sempre lá,
quer dizer, nem sempre
mas pelo menos a  câmara tem de estar bem apontada.

antes dizia-se anteóntem
depois lá veio um entendido limar
«antes de ontem, diz-se antes de ontem»
anteóntem passei pela avenida
- a minha mãe a beber água,
bebe sempre três púcaros,
amanhã conto em quantas goladas -
e a avenida está cada dia mais triste
ainda estou para saber
em que lugar guardam as flores que eram da nossa cidade.

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