4.3.09

menina-pião

- por que é que tens esse cordel atado às costas? às vezes vejo-te toda enrolada nele...
- bem, isso é uma estória já antiga e cheia cheia de pó.
- àtchin!
- santinho!
- ó, estás a rir-te... àtchin! isto é do pó e da tua estória.
- não é de ti, menino-espirro. é que me lembrei de um amigo que diz "santurso", quando ouve um espirro, e da menina-avesso que espirra assim: "tchin...à".
- é, é; vá, conta-me "masé" a estória!
- então é assim: isso é porque sou a menina-pião. quando era pequenina...
- já foste mais pequenina do que isso?!
- não me interrompas... então, quando eu era pequenina, a minha mãe dava-me as mãos e rodopiávamos juntas até caírmos na relva; vem daí.
pronto, gosto de andar à roda, giro que giro e não fico tonta. bem, às vezes vejo estrelas, mas é só um bocadinho, depois tombo.
primeiro ia muito contra as paredes, só por sorte caía certinho, esfolava os joelhos, todas as noites ouvia galos. por isso, gastava muito mercúrio e tinha de comprar os pensos-rápidos das ciganas.
mas isso era primeiro, agora em vez de ir contra as paredes, com muito jeitinho, entro dentro da toca do jerry, ouço jazz, despenteio-lhe a casa, volto à sala, saio pela portinhola do tom e só paro no jardim, tombo certinho e depois fico a sorver a relva até me lançarem outra vez.

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