28.6.09

origami feito de feltro que se atira aos charcos e se transforma em anfíbio

arranquei os olhos porque o vento me disse que eram diamantes. disse que podia dormir descansada e ter mil sonhos. o sonho é sempre o mesmo, vezes mil. para dormir descansada que rezava por mim, mas as rezas são cantilenas e não conheço os deuses escandinavos, também nunca vi harpas nem oboés. depois disse que o amor não dura e eu fui deitá-lo ao poço. escrevi uma carta à dorothy gale, porque sou uma menina cega, despenteada do vento, feita de lata e sem coração «deixa-me ir contigo», implorei...
o vento disse que sorrir faz mal e que os dentes partidos são para esconder, que não há pincéis nem cores suficientes. sorrisos, só de sépia e no crepuscular de verão.
pensei baixinho: «se pudesse guardava o perfil de um amor nos desenhos das nuvens e das montanhas fundas, certas palavras no murmurejar dos 5 oceanos», gritou que não, que isso não existe. as nuvens são cinzentas, pesadas, desfazem-se e às vezes choram de força, mas o mundo anda. és fácil de esquecer, cabes bem direitinha nas gavetas do esquecimento e um dia hás-de morrer.

2 comentários:

  1. Ai ventania, que me apertas a garganta a cada palavra.

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  2. sorry, humilde vaidade, e obrigada :)

    continuo à espera da minha carta :)*

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