29.8.09

herr vincenzo anda aos círculos

já tinha lido estas cidades nas borras de café. li-as quando era pequenino, na casa da minha avó, no meu país. o meu país não é de silêncio. tem sons e cheiro de mulheres, nas casas, nas ruas e mesmo nos campos.
a chávena era cor de pérola, rosada, parecia de casca de ovo. eu gostava, mas a minha mãe dizia que era kitsch. eu sabia que não, não era. ela tinha ouvido isso em casa dos sogros. aquela era a casa da loucura, berravam muito à mesa e não acreditavam nas borras de café.
ela só queria dizer essa palavra. eu gostava das palavras na boca da minha mãe, dizia-as lindas e límpidas. dizia flecha e flecha soava bem. mesmo quando praguejava, parecia música.
gosto daqui, gosto de ir ao lago, gosto do chocolate e da neve. a minha avó leu na chávena que eu ia acabar por aqui velho e cansado de trabalhar com algodão e seda. deixa marcas. eu fiz muito fio, fio para vestidos e fio para camisas de dormir. às vezes eu imaginava que o algodão era neve. eu trabalhava nos teares grandes, grandes. a minha avó viu pouca neve, eu vou tê-la para sempre nas mãos.

Sem comentários:

Enviar um comentário