26.10.09

quando se coça o nariz está um velho a apaixonar-se*

o sol bate deste lado, não se ouvem passos de pressa nas escadas. o sino toca de 15 em 15 minutos, ponho-me a contar (então, para dormir contam-se carneiros, para acordar contam-se badaladas, não vejo tontice nenhuma nisso!), faço contas até chegar às 83 que é a minha idade e depois farto-me. danço os olhos pelo quarto e desarrumo algumas memórias. cumprimento o robe do meu zé com um beijo, abro a janela para ver que tempo faz e decido se vou usar calças ou vestido, se vou usar botas ou as sapatilhas que a manuela me deu (as miúdas dizem que sou uma velhinha castiça, só por isso de andar de sapatilhas, eu acho que sou castiça porque ainda sei as coisas do mundo). depois vou aquecer café e ler um poema da bíblia. o carro só passa de hora a hora, apanho-o à mesma, o motorista lá desconta a viagem e sem saber leva-me pelo meu passeio de domingo, dou a volta à cidade e espanto-me por tudo e por nada.
a lua bate deste lado (tenho a sensação que a lua me persegue, às tantas foi por isso que a gracinha nasceu com aquela cabeça), arrumo as memórias, pisco os olhos e estalo os dedos para sonhar com algodoeiros.


*maria rosa

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