12.12.11

sempre lhe disse: poupa-me, lisa, um campo minado, lisa.

e lisa sempre o soube, algo dentro de si lho repetia antes de adormecer e mal acordava, mas isso não a impediu de apanhar o primeiro autocarro com destino à guerra. regressou feita num farrapo, perdeu: um olho, um braço (o direito), uma perna, uma orelha e os cabelos dourados.
lisa pensava: olha, agora já não preciso de piscar os olhos e assim posso ver apenas metade do mundo, a metade que me interessa, quanto mais linda e branda melhor; ah, assim só preciso de um bolso e de aí em diante foi mesmo assim: mandava costurar os vestidos só com um bolso, faziam-lhe um bom desconto, poupava nas luvas também, e sobretudo, deixou de escrever coisas tristes; uma perna, uma perna, que bem, assim posso profissionalizar-me no jogo da macaca; decidido, a partir de agora só ouço música clássica; já não preciso de fazer e desfazer tranças nem de amaciador para cabelos secos e queimados.
finalmente lisa deixou uma mensagem no voicemail da irmã: vem rápido, sinto-me terrivelmente só e preciso de ti.

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