10.11.09

e +





















ester ficou velhinha a chorar de um amor que não lhe respondia aos sonhos.
todas as manhãs as deixava no marco de correio do palais royal, depois apanhava o metro para o marais, bafejava os vidros e escrevi-as. aprendeu a dizê-las em linguagem gestual, na linguagem dos leques e a escrevê-la nos bolos, escrevi-as nas saladas (e com grande perícia, pulverizava-as com ervas), aprendeu a escrevê-las em grego e em checo. todos os dias fazia um poema de palavras escassas e com alguns erros, daqueles com as iniciais, sempre as mesmas 5 letras.

amour,
mon petit coeur, ma mer, je m'
oubli de moi, je porte cette robe d'été,
unicolore et très froid. mon amour est vrai,
répondez-moi s'il vous plaît.

heitor tinha cara de cigarro, usava óculos de massa e vibrava com policiais. aprendeu a arte de ourives com o pai. escolheu londres por causa do tamisa, um motivo estúpido: tamisa rimava com marisa, o nome da rapariga estilo cabaret que lhe tirava o sono desde miúdo. tinha uma folga por mês, chato, mas ele não se importava. nesses dias atravessava o canal da mancha, ia ao encontro de ester, a irmã, levava-lhe chá e singles dos smiths.

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